Um retorno à essência, por Rodolfo Fontana
Conheça o apartamento no litoral paranaense que passou por uma reforma gigantesca e que traz em cada detalhe um pedacinho de memória da cidade de Caiobá e dos dias de maior alegria de uma família apaixonada pelo balneário.

Este é um apartamento que carrega mais história do que se possa perceber ao primeiro olhar. Há aqui uma combinação irresistível de história familiar, encontros, viagens e trajetórias de vida. O pano de fundo é a Praia Mansa, em Caiobá, no litoral paranaense, um lugar que já teve seus dias de máximo glamour — com grandes festas e o metro quadrado mais caro do Brasil — e que mantém o charme das décadas de 60 e 70 aliado às benesses dos tempos modernos e à exuberância da sua sempre destacada natureza. Neste mesmo cenário, a proprietária passou verões inesquecíveis na infância, e conheceu o futuro marido na juventude.


Tudo aqui tem memória e uma certa nostalgia. Na prática, este foi um trabalho que começou antes mesmo dos primeiros traços do projeto, o que certamente colaborou para um resultado tão expressivo. Além de toda referência trazida daquela época, o casal de proprietários sonhava com um espaço visualmente muito clean, que esbanjasse praticidade e que priorizasse tons claros inspirados na ilha de Mykonos, na Grécia, um dos destinos de viagem preferidos da família.
A ideia então era encontrar um imóvel que servisse de refúgio para o casal e onde aquelas atmosferas — da antiga Caiobá e de Mykonos — pudessem se harmonizar. Por isso, e não à toa, o arquiteto Rodolfo Fontana esteve junto do casal desde a escolha do imóvel, um apartamento antigo, com cerca de 350 metros quadrados e potencial para uma grande reforma, além de estar, localizado estrategicamente na curva da praia, com um ângulo ampliado de vista para a orla e para o mar.

Basicamente, o antigo apartamento foi posto abaixo e reconstruído para se adaptar às necessidades dos novos proprietários. As paredes internas foram praticamente todas retiradas ou reposicionadas. Os antigos 4 quartos transformaram-se em duas espaçosas suítes. As aberturas de janela foram levadas até o chão, priorizando a vista, a ventilação e a luz natural, e integrando todos os ambientes da área social com o pátio. Toda a estrutura da piscina também mudou de lugar. Antes, ficava no jardim dos fundos, mas, a pedido dos novos moradores, foi levada para a varanda lateral, com vista panorâmica para o mar. Impermeabilização e hidráulica foram completamente refeitas.
São muitas as referências à época de ouro de Caiobá. Um dos homenageados é o cronista e colunista social Dino Almeida, pai da proprietária. Dino foi um dos jornalistas que ajudaram a divulgar a cidade e suas grandes festas a partir da década de 60. O mural “Divina” — que está em um dos pátios do apartamento e é uma obra conjunta do arquiteto Rodolfo Fontana e do artista plástico Rômulo Lass — traz o canarinho amarelo (referência ao colunista social) e o edifício Mapi, um clássico da arquitetura modernista e um dos primeiros a serem construídos na praia.


No interior, o apartamento se apresenta com uma aura muito clean, sem deixar de lado uma leve pegada retrô referente aos anos 60 e 70, que se mostra claramente no sofá e na poltrona do living, no lustre da sala de jantar, nas banquetas da cozinha e no banco construído em concreto na varanda. As calçadas da praia também estão representadas no apartamento, no mosaico de mármore travertino do piso da varanda, que lembra o petit pavet usado na orla das praias da região.

A maioria do mobiliário é novo, visto que o casal manteve seu outro imóvel de praia em Santa Catarina. De certa forma, isto deu maior liberdade ao arquiteto na composição dos ambientes. Contudo, algumas peças assinadas da coleção do casal foram trazidas para cá, como a chaise La chaise, de Charles e Ray Eames, a mesa Saarinen Eero do jardim, e as cadeiras Louis Ghost de Philippe Starck para kartell. O casal também coleciona obras de arte e algumas foram trazidas para compor o ambiente, com destaque para obras de Alfredo Volpi, Juarez Machado, e do escultor Antônio Maia.



Na cozinha gourmet, os pilares revestidos em limestone vermont trazem o tom da areia da praia para dentro do apartamento. O desenho natural do quartzito da bancada remete às ondas do mar. Destaque para as banquetas Bossa, de Jader Almeida, e para a cozinha Todeschini toda em laca branca alto brilho. O painel de carvalho natural tingido traz unidade formal e senso de continuidade ao apartamento. Ele envelopa o elevador social e segue em direção à cozinha e ao corredor de acesso aos quartos, criando ainda um nicho que serve como bancada de café e chá.

No grande ambiente integrado, o arquiteto optou por não usar gesso, mantendo o pé-direito um pouco mais alto e dando ainda mais a sensação de amplitude. O projeto luminotécnico foi todo pensado a partir das corticeiras e de luz indireta e difusa, criando variados e agradáveis cenários. As janelas se abrem até o chão, ampliando o conceito de permeabilidade. Na sala de jantar, destaque para a mesa e cadeiras Doimo de Marcelo Ligieri e para o lustre de Murano da década de 60 do Antiquário Cristiano Ross.



Os tons de branco predominam na suíte principal, em um suave contraste com o painel lateral. A estrutura é a mesma presente desde o hall de entrada, reforçando os conceitos de continuidade e fluidez do projeto. Já as nuances de areia aparecem no tapete by Iza, e a atmosfera de leveza é confirmada pelas linhas do banco Harry Bertoia e do abajur Internam. Amplo, o foi aberto para o jardim, criando um pátio privado com spa externo. O chuveiro é acolhido pela parede de bambus, que confere privacidade e permite banhos praticamente ao ar livre. O closet da Todeschini, em laca branca e tons de cinza, é todo modular, podendo ser composto de diferentes formas. Destaque para a criação de iluminação indireta, que valoriza a exposição das roupas.


Na suíte de hóspedes, a opção foi não utilizar cabeceira, com a cama fazendo composição diretamente com o painel e com os travesseiros apoiados em rolinhos, uma referência aos anos 70. A simetria é a marca do ambiente, que conta com um móvel com inspiração náutica, em laca branca alto brilho. Ele camufla o ar condicionado e comporta dois armários, ideais para um casal visitante.



O Garden elevado é o grande diferencial deste apartamento, é o que lhe dá todo o ar de casa de praia, com um jardim super convidativo — fruto do trabalho de paisagismo — e vista panorâmica para o mar. Na varanda, a composição de chaise-sofá, mesa de centro e poltronas, todas assinadas por Jader Almeida, são o contorno perfeito para a obra em vidro e espelho de Juarez Machado. O piso em travertino remete à calçada da orla. A piscina, com borda infinita e acabamento em limestone, ficou em posição privilegiada depois da reforma. Está de frente para o mar e se compõe com o deck de madeira tingida, além das espreguiçadeiras e da mesa de apoio — ambas da Saccaro — e as esculturas em mármore, herança da proprietária.