Estado da Arte, por Marcos Bertoldi Arquitetos
Razão e emoção estão em sintonia neste projeto, realizado para uma família e três moradores. Aqui, a razão se expressa por meio da linearidade das estruturas planejadas, enquanto a emoção nasce dos móveis de design e de suas mais diversas raízes, assinaturas e histórias.

Para conceber o projeto de 300 metros quadrados, Marcos Bertoldi o virou do avesso. Inventivo, o arquiteto lançou um olhar arquitetônico sobre os ambientes internos e criou cenários amplos com estruturas lineares e homogêneas. Localizado próximo ao Parque Ibirapuera, em São Paulo, o apartamento é o quarto projeto assinado para a família de três moradores — algo que tornou os processos mais fáceis, segundo Marcos: “Nossa proximidade facilitou tudo. Eu já conhecia os gostos, os hábitos, a rotina da família; eles também já sabiam como eu trabalhava, estavam familiarizados com meu estilo e iniciados no universo do design”, revela.

As peças de design assinado, que enriquecem o acervo da família, foram garimpadas de diversos lugares do mundo. Ao lado de revestimentos nobres e uma cartela de cores neutras, os elementos foram explorados individualmente e dispostos quase como uma obra de arte — afinal, até o vazio é planejado pelo arquiteto.


“Aqui, tudo o que é não ocupado, além de transmitir uma indiscutível sensação de leveza, acaba por valorizar o mobiliário, colocando-o quase no patamar de obra de arte. São o que costumo chamar de ‘vazios ativos’, ou seja, espaços não preenchidos, mas que acabam assumindo uma função decorativa no projeto”, explica o profissional.

Desenhada através de inspirações nos ideais modernistas e recheados de brasilidade da arquiteta Lina Bo Bardi, a poltrona Triangular, de Jorge Zalszupin, convida ao aconchego. A peça acompanha os módulos autênticos do sofá Toot, de Piero Lissoni, na composição da sala de estar. Como contraste à base neutra, a cadeira Ribbon, de Pierre Paulin, adiciona a sua leveza e assimetria ao acervo da família. Para complementar, o décor conta com peças únicas e dinâmicas, como o Double Bubble, de Anna Torfs.

A estética dos ambientes internos se relaciona com as premissas minimalistas, por conta dos desenhos dos móveis assinados. Sem a presença de ornamentos rebuscados, o arquiteto garantiu uma atmosfera serena, onde a potência dos móveis soltos protagonizam as áreas. O terraço recebeu a renomada poltrona 50, de Zanini de Zanine, em tom escuro, e o banco Renda, assinado por Lia Siqueira, embeleza o estar. Em uma das salas de jantar do imóvel, as cadeiras Indochine, de Charlotte Perriand, recebem os moradores.

Pitadas de tons vibrantes nascem das obras de arte, distribuídas pontualmente nos ambientes para a contemplação. A grandiosa área social, protagonista no cotidiano dos moradores, conta com as belas proporções da poltrona Alta, de Oscar Niemeyer. O duo de poltronas Sapão, de Fernando Mendes, dialoga com os demais elementos nobres e com os painéis em madeira. O vaso Aalto, de Alvar Aalto, e o cinzeiro Bauhaus, de Marianne Brandt, arrematam a composição.


Os momentos das refeições receberam uma atenção especial do arquiteto. Afinal, duas salas de jantar foram planejadas para as confraternizações dos moradores: uma integrada à cozinha e outra mais formal e intimista. Na segunda, o aparador Pi, assinado por Jacqueline Terpins, forma um cenário discreto e refinado.

Pontos-chave
• A suíte máster teve o seu layout modificado durante a obra. Segundo Marcos, o ambiente era confuso e os banheiros divididos dificultaram na funcionalidade dos espaços.
• Na reestruturação, o banheiro e o closet do casal receberam divisões por esquadrias de vidro e aço inoxidável.

• No quarto, a cama Auping e o mobiliário planejado em madeira natural evidenciam a complexidade da criação e a busca pelo minimalismo. O ambiente também recebeu a luminária de parede assinada por Serge Mouille.

Detalhando
1. Integrada à sala de jantar formal, uma churrasqueira foi planejada seguindo a mesma premissa: menos é mais. Em Limestone, o espaço conecta bancada, cuba e ainda desenvolve uma iluminação personalizada.

2. Linhas retas, racionais e homogêneas criam os panos de fundo do apartamento. O arquiteto tirou partido da madeira Pauferro para desenvolver a unidade estética nos espaços.
3. Os numerosos espaços vazios destacam os revestimentos nobres, realçados pela presença da iluminação embutida. O projeto luminotécnico também agrega no conforto dos espaços e na valorização de cada elemento.

