À luz do luar, por Marcos Bertoldi

A inter-relação entre arquitetura e design é a essência deste projeto onde luz e sombra fazem parte do espetáculo. Realizado para clientes exigentes, Marcos Bertoldi utiliza da sua excepcionalidade para dar vida a ambientes grandiosos, com o predomínio das singulares — e variadas — faces de madeira.

A leveza é garantida pela técnica adotada e pelas esbeltas proporções buscadas no projeto”, compartilha Marcos. No projeto, as paredes em pedra moledo se integram aos beirais e as peles vazadas.

Já dizia Niemeyer, o rei das curvas e um dos maiores arquitetos que já pisou em solo brasileiro: “se a reta é o caminho mais curto entre dois pontos, a curva é o que faz o concreto buscar o infinito”. Projetada ao centro dos ambientes sociais, a escada helicoidal tem curvas que inspiram a leveza e apresentam a grande protagonista desta residência: a madeira.

Além da escada, elemento ambíguo por ser fluído e imponente da mesma maneira, a residência de mais de mil metros quadrados recebeu beirais, que garantem horizontalidade, e elementos vazados que reinventam os muxarabis — inspirados em tramas de cestarias japonesas. As frestas dos painéis são alguns dos responsáveis pelo jogo de luz e sombra na casa que, segundo Marcos, é um experimento sob a luz: “a noite a iluminação se inverte, transformando a casa numa grande luminária, tramando luz e madeira”.

Estética e funcionalidade andam em harmonia no projeto, onde a escada helicoidal, as releituras de muxarabis e os painéis lisos constroem um cenário comunicativo, aconchegante e refinado na área social — e são contrastados pelo tom do sofá Met, da Cassina.

Desafiado pelas exigências dos clientes, proprietários da construtora Greenwood, que já tinham as medidas dos principais espaços pré-definidas, o escritório assume uma arquitetura sensorial — onde os limites entre o interior e exterior se apagam e só restam luz, sombra e arte.

A contemporaneidade se sobressai nos traços de Marcos. A residência, que é um extenso plano contínuo, se integra através do visual amadeirado e das poucas barreiras físicas. O hall externo ganhou um espelho d’água e um painel com módulos pivotantes — que traz dinamismo à proposta e entra em sintonia com o pergolado metálico.

Ao andar pelos espaços, os panos de luz e sombra acolhem os moradores.

Inspirados nas cestarias japonesas, geralmente tramadas à mão, os muxarabis dão personalidade à sala principal e são os responsáveis por torná-la uma grande luminária à noite. A movelaria assinada convoca ao aconchego e a contemplação da arte, principalmente com a eleição de itens tão premiados como as poltronas e banquetas Mole, assinadas por Sérgio Rodrigues, e o sofá curvo Eda-Mame, de Piero Lissoni.

Assim como a tela de Mariannita Luzzati, o sofá Met, da Cassina, é um dos protagonistas e a sua composição é complementada pelo design das mesas Vic, de Antonio Citterio.

Na sala de jantar, a monocromia dos tons amadeirados revela a sofisticação que mora nos detalhes, nas linhas minimalistas e na harmonia entre os elementos. A escada em espiral se projeta como uma escultura no ambiente que recebeu a mesa de jantar Pi em vidro, assinada por Jacqueline Terpins e as cadeiras Incisa, de Vico Magistretti. O aparador em tom violeta dá um toque despojado à composição de painéis lisos e ripados.

Para a família colher os seus próprios ingredientes, o jardim possui uma jabuticabeira e uma horta que foram protegidas por painéis de madeira

A experiência de se estar perto da natureza é constante nos ambientes, onde não há barreiras físicas entre o interior e o exterior e a continuidade de elementos colaboram para isso. As banquetas Heron na cor grafite, concebidas por Francesco Rota, foram compostas com um mobiliário minimalista na cozinha, que brindam o mimetismo através das linhas discretas.

As paredes neutras dos corredores receberam obras vibrantes, como a tela do artista Willian Santos e a escultura de Eliane Prolik. Os elementos reafirmam a aliança entre arte, design e arquitetura que predomina o projeto.

O quarto do casal é voltado ao bosque nativo que impresta o seu charme através dos elementos vazados, dos vidros e da permanência da madeira. A obra Paisagem, de Antonio Malta Campos, reforça a proposta que valoriza a relação entre homem e natureza. Por causa da arquitetura pensada estrategicamente, a iluminação invade as áreas íntimas e até os banheiros receberam a companhia da vegetação.

O pé-direito duplo foi pensado para que o sol e a iluminação natural entrem com facilidade nos ambientes e os mantenham aquecidos. No corredor, a mesa lateral Napoleon, de Philippe Starck, é um dos destaques.

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