Tudo zen, meu bem: a arquitetura de um hotel abraçado pela mata nativa
Sentir-se parte da natureza é comum no Fuso Concept Hotel, um local onde o anoitecer acolhe e a alvorada inspira.

O toque da grama úmida nos pés descalços, a chuva escorrendo pela pele e trazendo frescor aos dias quentes, o som dos vagalumes e pássaros quando a noite adentra. As lembranças — principalmente as afetivas — que as pessoas levam vida afora aquecem o peito e garantem que os momentos estão sendo apreciados em sua completude. Criadora imbatível de recordações, as viagens se destacam nas bagagens internas e reforçam a unidade de cada instante. É difícil que nenhuma aventura tenha marcado a sua história, seja por descobertas culturais excêntricas, pela gastronomia exótica, por encontros repentinos ou pela beleza arquitetônica. Até os materiais remetem a sensações e formam sentidos: a madeira emite uma tradicionalidade que abraça como um velho conhecido; já o concreto lembra as possibilidades que a modernidade engloba. Sem falar nos estilos e linhas que homenageiam séculos passados e desenhos que ultrapassam os limites do construtível.

Como tais aspectos marcam a memória e — por que não — a vida das pessoas, o Fuso Concept Hotel resolveu apostar naquilo que vem da essência para se destacar. Tomando a arquitetura como ponto de partida, desenho, conceito e materiais causam a primeira impressão nos hóspedes e nos responsáveis pela autenticidade do local. Seja para viagens a trabalho ou a lazer, a imersão no cenário natural torna a experiência regeneradora, com uma cobertura vegetal que transforma o imóvel um oásis com ares rurais — tudo isso de propósito, afinal, o paisagismo foi inspirado em florestas tropicais brasileiras. O projeto visou também causar menos impacto ambiental possível, já que está próximo a uma área histórica preservada. Assim, realinhando uma coexistência já duvidosa, ser humano e natureza prosperam juntos e convidam à contemplação, à reflexão e ao autocuidado.

Quando o assunto é arquitetura hoteleira, há um montante de informações, opiniões e até certas regras. Além de cada empreendimento precisar direcionar o seu foco a um público específico, há comportamentos que necessitam ser acompanhados de perto para que seus objetivos sejam claros e bem estruturados. Para a concepção do Fuso Concept Hotel, a proposta era reunir o luxo dos hotéis de alto padrão com um aconchego proporcionado pelo contato ambiental — em consonância com um novo movimento originado da necessidade que as pessoas estão sentindo em se afastar de suas casas em busca de uma forma de desconexão.

Para além do paisagismo, a arquiteta Eduarda Tonietto desenvolveu um local que põe em ótica exatamente esses conceitos, como o respiro de poder pausar a rotina e se ligar à terra, ao vento e ao mar. Por isso, o projeto arquitetônico foi concebido com traços retos e puros, sem muitos ornamentos e detalhes que pudessem sobressair as belezas naturais. Além disso, a profissional buscou criar um envolvimento com materiais em sua essência, a partir da introdução de elementos como a pedra, a palha e o barro. Assim, a alma de casa se deu facilmente e é reforçada tanto externamente, quanto nos espaços internos.

Conceitos que variam com o passar dos anos e com as transformações mundiais, a sofisticação e a nobreza perdem um pouco o sentido se não estiverem lado a lado a conforto, bem-estar e receptividade. Para unir estes termos em uma linguagem diferenciada, os arquitetos desenvolvem novas formas de encantar com materiais famosos pela ampla possibilidade de incorporação, como o concreto, o metal e a madeira.

Essa aura simples e expressiva é enfática no Fuso Concept Hotel, aliando artesãos locais e designers renomados para a movelaria escolhida a dedo — Jader Almeida, Guilherme Wentz e Jorge Zalszupin são alguns dos artistas eleitos nos móveis, enquanto Tomas Graeff, Mestre Irinéia e Heloísa Galvão são três dos nomes entre os objetos decorativos e artesanatos. Durante os quatros anos de obra, entre interiores e arquitetônico, um foi dedicado somente à pesquisa do mobiliário. Por isso que o garimpo ressoa tão bem a linguagem do hotel, transformando todos os espaços com estofados impecáveis, traços contemporâneos e tramas que imprimem referências rústicas.

A harmonia do design de interiores cria ambientes convidativos, seja para quem tem a paisagem como companhia ou para quem está junto de outrem. Leais a um dos propósitos do hotel, as áreas sociais emitem a composição perfeita para “desligar o tempo para viver o presente”, com áreas que instigam o andar descalço, rir à toa e, quem sabe, fazer novas amizades. Apesar de abrigar diferentes pessoas, com personalidade e estilos diversificados, o hotel mantém uma linguagem bem definida. Com estruturas metálicas, decorações feitas de barro e desenhos orgânicos, o espaço coletivo recebeu a mescla perfeita entre o estilo rústico e o contemporâneo, alternando entre linhas bem definidas e elementos mais robustos.

Abrir os olhos e se deparar com uma vegetação abrangente é um privilégio de poucos — principalmente em grandes metrópoles, onde o ritmo acelerado de produção e a urbanização tomam conta dos cenários em tons de verde. Para curtir o paisagismo, os jardins e o solo fértil em todos os instantes, a arquitetura do hotel substitui as tradicionais paredes por esquadrias envidraçadas e, apenas ao abrir as cortinas e persianas, o hóspede já contemplará a natureza.

Do pano de fundo à movelaria, os elementos escolhidos para as suítes — nomeadas bangalôs — também reverberam os princípios do hotel: como a mesa de centro Água, estruturada por três grandes pedras e desenhada por Domingos Tótora. O componente abraça a natureza e, como inspiração, tem o instante em que a água corrente vira rio. Já a poltrona Mole, criação de Sérgio Rodrigues, nasceu da vontade e do ato de se esparramar em um confortável móvel — incentivando o repouso e a tranquilidade.

Conforto visual, revestimentos mais brutos e um sentimento inigualável de afeto são características-chave do estilo rústico. Quando empregado, o conceito tem o poder de conectar as pessoas com sensações que lembram a casa da avó, um retiro campestre ou um local de extremo acolhimento.

Em sintonia com a contemporaneidade, o tom rústico ganhou toques atemporais para passar a tradicional atmosfera de aconchego e, ao mesmo tempo, aliar-se à linearidade. Nas suítes, elementos com características industriais, revestimentos cimentícios e objetos com formatos orgânicos criam uma simplicidade indiscutível.

“Ter a oportunidade de criar um lugar que receba diversas pessoas com histórias diferentes para que experimentem um pouco do que eu vivi nessas minhas caminhadas pelo mundo é realizador”, revela a arquiteta Eduarda Tonietto, que passou anos buscando as inspirações para projetar o hotel.

Linear, geométrico e bem convocado, o desenho arquitetônico se torna protagonista nos bangalôs do hotel. Entre quadrados, vidros e concreto, a arquitetura confere ousadia à criação, enquanto as cores cumprem o papel de acalmar, purificar e desacelerar o hóspede.

Assim como o branco, o bege e seus semelhantes têm a função de transmitir uma certa calmaria, além de serem certeiros na hora de compor com a madeira e a palha. Essas tonalidades também adicionam claridade aos espaços — para quem preferir ficar com as persianas fechadas, claro.

Apesar das diferentes propostas, os profissionais conseguiram manter a mesma linguagem entre os bangalôs, afinal, todos visam mergulhar o hóspede em um mar de aconchego. Nas áreas integradas, as varandas foram planejadas com balanços, mesas e uma vista panorâmica das praias de Jurerê Internacional — uma das mais frequentadas e amadas de Florianópolis, seja por turistas ou pelos próprios moradores.

Para desenvolver um lugar que seja inspirador, criatividade, sensibilidade e sintonia são pontos essenciais, principalmente quando o público busca se refugiar de agitos, barulhos e outros inconvenientes rotineiros. Na composição do hotel, o paisagismo se dá como o melhor amigo da arquitetura e, juntos, preservam as particularidades da natureza nativa e as inserem dentro das atividades dos hóspedes.

Fazer ioga vislumbrando o pôr do sol e almoçar admirando o mar são algumas das alternativas, além de caminhadas pelo jardim tropical exclusivamente planejado pelo paisagista Alex Hanazaki.

Áreas de lazer são indispensáveis e independem do tipo de construção para servir a sua função: ambientes de descompressão. Após um almoço satisfatório, um passeio divertido ou um SPA, que tal se deitar nas chaises da piscina e ler um bom livro?

Espaçosa e acolhedora, a movelaria dos espaços de lazer harmoniza com o design das áreas internas e não deixa a arquitetura brilhar sozinha. Os móveis são ideais para quem estiver na companhia de um amor — além do hotel oferecer espaços específicos para casais em sua lua de mel ou que querem um tempo apenas para desfrutarem em duo. Com bordas retilíneas e o cheiro da vegetação no ar, as piscinas são elementos que incitam a serenidade e podem ser apreciadas em conjunto ou individualmente — de qualquer forma, elas sabem como deixar a alma mais leve.

Sem fórmula secreta ou um padrão, os elementos salientam um simples conceito: ser um refúgio de paz. Por isso, os responsáveis pelo projeto utilizaram recursos modernos em prol da integração natural, como as portas que se abrem totalmente e, quando são fechadas, fazem um efeito diferenciado entre as tonalidades da madeira e as cores mais claras.

A associação entre estilo, praticidade e elegância é uma constante, seja na piscina e seu layout discreto ou na forma de distribuição da movelaria — que auxilia na fluidez de espaços e na livre circulação dos clientes.

Além de reforçar a ideia de descontração e aconchego, apostar em materiais naturais é uma prática comum em concepções externas — seja na arquitetura ou nas áreas de lazer — por causa da durabilidade, da impermeabilidade e da facilidade de composição. Sustentáveis e geradores de economia, esses materiais também são grandes aliados do paisagismo — aspecto que deve ser levado em consideração na hora de projetar um imóvel — e podem ser explorados de diferentes maneiras para passar a sensação desejada. As ripas de madeira foram as selecionadas para a composição dos ambientes de convívio e elevam a proposta por conta da forma como são exploradas — percorrendo a extensão do deck e adentrando as portas para arrebatar.
