Tapetes: herança milenar
Do berço da tapeçaria no Oriente Médio, onde surgem as criações atemporais que permanecem por gerações em uma mesma família, como um legado valioso, às peças tecnológicas que unem funcionalidade e charme, tapetes são indispensáveis para propostas aconchegantes e autênticas.

Repleta de significados, a arte de confeccionar tapetes é milenar e carrega as memórias de povos da Antiguidade. Passada de geração a geração, a tecelagem surgiu como uma estratégia para enfrentar o inverno rigoroso, quando os povos nômades da Pérsia, em aproximadamente 500 anos a.C., precisavam se aquecer para sobreviver às temperaturas baixíssimas da região. Com o passar do tempo, a expressividade das civilizações persas deu origem ao aspecto artístico dos tapetes, transformando um elemento inicialmente funcional em objeto cultural.
Transcender a questão utilitária foi um divisor de águas na criação, nos costumes e no mercado de tapeçaria que surgiu a partir disso. Logo, o mundo descobriu a beleza, a resistência e a versatilidade das peças, que se tornaram cobiçadas ao redor do globo — até hoje, após a confecção do primeiro tapete de quem se tem registro, o Pazyryk, há cerca de dois mil e quinhentos anos. A atemporalidade dos modelos orientais é uma de suas características mais instigantes. Afinal, são poucos os objetos que resistem com tanta graça às amarras do tempo.

Por serem peças soltas e com alto valor afetivo e cultural agregado, elas sobrevivem a mudanças e passam de pai para filho por gerações. “É possível encontrar peças centenárias que são como herança para famílias mais tradicionais, uma forma de valorizar o trabalho artesanal”, conta Bruno Yanke, especialista e empresário do ramo de tapetes, que atua à frente da marca Tapeteiro.
Hoje, os tapetes orientais feitos no Irã, no Egito e em outros países asiáticos estão presentes em projetos de interiores de diferentes estilos. Do clássico ao contemporâneo, a estética das peças originais é sempre sofisticada, além de contar histórias e ser sinônimo de aconchego.

Mais do que cenários coadjuvantes, os espaços habitados podem ser narradores de grandes histórias. No projeto elaborado pelas designers Linda Martins e Linda Cris Araújo, do Maraú Design Studio, o tapete cumpre esse papel, pois já fazia parte do acervo da família. Para as profissionais, não teria como deixá-lo de fora da proposta. “O modelo shaggy, com pelagem mais alta, quente e aconchegante, se mostrou perfeito para esse espaço”, conta o duo.

A partir do século XVIII, a produção de tapetes evoluiu, principalmente após a revolução industrial, quando os artesãos perderam espaço para as máquinas. As padronagens de fauna e flora, que identificavam as raças dos tapetes típicos das regiões asiáticas, assim como as fibras naturais, como lã e algodão, cederam espaço para modelos geométricos e com tecidos sintéticos.

Atualmente, as duas vertentes coexistem: ambas com particularidades que agradam diferentes perfis.





Apesar do berço no continente asiático, de onde ainda sai boa parte da produção mundial, principalmente os mais tradicionais, a confecção de tapetes chegou a outros territórios, inclusive na América Latina. Designers brasileiros como Humberto da Mata e Ângela Leal fortalecem o mercado com suas criações originais, valorizando a cultura e os insumos nacionais.



Eternizada por Coco Chanel, ícone da alta costura, a padronagem pied-de-poule é a estrela do tapete desenhado pela arquiteta Mariana Hofmann para uma camisaria. O elemento corrobora para a atmosfera sóbria e sofisticada da loja, com detalhes que remetem à história de três gerações de camiseiros. “Buscamos inspiração na alfaiataria europeia e em marcas como Ermenegildo Zegna que, assim como o cliente, se orgulha da produção verticalizada e de sua tradição, mas sem abandonar a contemporaneidade”, conta Mariana.

Se existe um elemento em projetos de interiores que precisa ser resistente, este elemento é o tapete. Afinal, é sob os pés que ele cumpre o seu papel. O projeto do Cipriani Studio ilustra com destreza essa ideia: em um living feito para ser usado sem cerimônias, o tapete desempenha a função de não somente agregar estilo ao espaço de convivência, como também proporcionar conforto e acolhimento para os moradores e para os seus convidados.


A confecção de todo objeto para casa, seja algum elemento de base, como revestimentos, ou peças de design assinado, começa no mesmo lugar: a matéria-prima. Na criação de tapetes, não é diferente. Este, aliás, é um ponto imprescindível nesse item.

Os primeiros tapetes dos quais se tem registro eram feitos a partir de materiais naturais, como lã. A mais tradicional das linhas era teada a partir de técnicas inovadoras, que resistiram aos limites do tempo e ainda hoje se mantêm vivas na cultura de incontáveis povos asiáticos, que compartilham com o resto do mundo os extraordinários tapetes persas.

Com o tempo, novos materiais passaram a ser explorados, como como o algodão, o couro, as fibras naturais e ecológicas, assim como os sintéticos, a exemplo da poliamida, que hoje é extremamente difundida no mercado.

Para o designer de interiores Fernando Luiz Dal Bosco, na hora de escolher o tapete ideal, é preciso verificar a finalidade do ambiente. “Em salas de estar e quartos, buscamos tapetes com fibras macias que proporcionem aconchego.

Já nas salas de jantar devemos verificar a facilidade de limpeza e manutenção, assim como áreas externas, que exigem peças especiais que suportem ações climáticas”, sugere.

O sentido de continuidade do loft executado pelo designer de interiores Fernando Luiz Dal Bosco se dá, entre outros motivos, pela escolha do tapete. Primeiro, pelo tamanho: extensa, a peça recebe os móveis do lounge e cria um espaço marcado pela amplitude.

A segunda característica é a cor do elemento, que passeia pelos mesmos tons do revestimento, do sofá e das cadeiras eleitas para o ambiente. Ao optar por tons vizinhos, Fernando cria uma unidade visual na proposta, o que a torna ainda mais fluida e reforça o papel indispensável do tapete na composição.

Os moradores deste apartamento em Blumenau, projetado pelo arquiteto Thiago Mondini, buscavam um tapete com fácil manutenção para que as crianças da família pudessem conviver livremente no ambiente social. De acordo com o profissional, a escolha pelo modelo se deu por conta da resistência a acidentes com comida, bebida, canetinhas ou tintas. Ao lado da funcionalidade, o tapete industrial sintético chama a atenção pela cor única com relevo em desenho geométrico. “Todo o ambiente foi trabalhado com paleta cinza e pontos de cor nas decorações. O tapete, novamente, amarra todos os elementos soltos do projeto e contrasta por diferenciação de escala com os demais padrões geométricos utilizados no projeto”, explica Thiago.


e conectar as poucas peças de mobiliário, como o banco “Era”, de Eduardo Bortolai. Foto: Fábio Jr. Severo
Em meio à sobriedade sofisticada da criação de Thiago Mondini, o tapete de lã texturizada, elaborado semi-industrialmente a partir da colocação de pontos feita com uma pistola, encanta pela mescla de cores (bege, cinza e azul) que forma um padrão único. O toque do fio natural traz conforto e deixa o ambiente requintado. “Queríamos um tapete calmo, sem desenho, que apenas valorizasse o ambiente de jantar e as peças utilizadas no projeto”, compartilha o arquiteto, a exemplo dos pendentes Mush, de Jader Almeida, do aparador Bora, de Bruno Faucz, e das cadeiras Lua Nova, de Daniela Ferro.


Clássico, moderno, contemporâneo. Seja qual for o estilo, há um tipo de tapete que é sempre uma boa opção: o persa. Carregado de história em cada fio, o item narra a cultura da Antiga Pérsia, atual Irã, e de outros países do Oriente, como a Índia, o Paquistão e a Turquia, com desenhos passados de geração a geração, que podem ser vistos também ao avesso — uma antiga estratégia para identificar peças originais.

Os modelos tradicionais resistem às amarras do tempo, tanto na questão física quanto na imaterial. Não à toa, são valorizados em todo o mundo por milhares de anos. Uma das características mais marcantes das peças é a irregularidade dos traçados, que reforça a ideia de que a perfeição cabe somente a Alá. Por isso, não é exagero dizer que cada peça é literalmente única.

As arquitetas Natália Garofalo e Rafaela da Rocha, do Mútuo Studio, resgataram elementos do passado e conferiram identidade ao projeto do pub com a escolha do tapete persa que se destaca na composição. Além de harmonizar bem com materiais naturais, como o tijolinho queimado e couro caramelo, o elemento colabora na criação de uma atmosfera aconchegante e na releitura com um toque de contemporaneidade dos bares europeus. “Por ser um tapete retangular e de dimensões grandes, porém com um visual bem trabalhado, o tapete se torna um elemento que emoldura todo o mobiliário e o espaço livre, servindo como peça de decoração essencial, mas também como forma limitadora”, revela o duo.

À beira do mar, o ambiente projetado por Maressa Ferreira e Eduardo Melo, do Studio Set7, ganha forma a partir de peças assinadas por grandes nomes do design brasileiro, como a Mole, de Sérgio Rodrigues, que compõe com o quadro da artista Djanira; a luminária CaramBOLA, de Carol Gay; e o banco Blade, de Jader Almeida. Nesse cenário, o formato geométrico do tapete e sua composição de cores condizem com a proposta do apartamento, que esbanja elegância e atemporalidade. A peça é confeccionada com fio sustentável feito a partir do nylon das redes pesqueiras retiradas e recicladas do oceano.

Mais do que funcionalidade e beleza, conhecer a fundo o universo de tapetes é uma rica experiência, principalmente em relação aos modos de confecção. São inúmeras técnicas que resultam em peças singulares, cada uma com características únicas, literalmente. Além da aparência do produto final, cada método tem tempo e nível de dificuldade distintos, assim como interferência direta na durabilidade, no toque e na experiência geral.

A técnica hand-tufted, por exemplo, utiliza uma pistola, misturando a atividade manual com uma ferramenta, um equilíbrio entre os extremos. Este tipo de tapete é feito de lã em tear em fios contínuos em gomos, que criam pontos rígidos que deixam o pelo firme. A técnica faz com que a peça fique resistente e sem caimento, uma marca do clássico contemporâneo indiano, como o Maldivas.

nylon é entrelaçado para a criação de uma estética orgânica. Foto: Kacio Lira
A irregularidade do tapete persa, produzido de forma artesanal, garante a originalidade da peça iraniana eleita para o projeto assinado pela arquiteta Ana Paula Zonta. Na circulação longa, o caminho é enriquecido com painéis laqueados e arandelas que harmonizam com o espaço, deixando o ambiente ainda mais aconchegante para a passagem. “O tapete é o destaque do ambiente, pois valoriza o cenário e se encaixa no espaço de forma agradável e sofisticada”, completa a arquiteta.

O designer Henrique Steyer é conhecido pelas suas criações inspiradas na ideia do macaco, como joias e outros objetos de luxo. No design de tapetes, não seria diferente: o gaúcho enaltece a brasilidade de sua assinatura na peça em poliéster enrijecido e jacquard. O modelo ilustra a potencialidade dos tapetes de se tornarem protagonistas em propostas de interiores.

Cores vibrantes, desenhos assinados por artistas e designers, recortes inovadores que provocam quem passeia pelos elementos: o que não faltam são possibilidades que podem transformar tapetes em objetos de desejo indispensáveis.

Por falar em papéis principais, o projeto assinado pelo escritório Beta Arquitetura, de Bernardo Gaudie-Ley e Tania Braida, traz uma peça com patchwork geométrico em couro que cria uma pista irreverente e autêntica. Os olhares se voltam ao tapete, elemento-chave da composição.


matéria-prima a cannabis, arranca suspiros de quem chega ao local. Foto: Denilson Machado


De um lado, os persas e suas histórias milenares em cada fio; do outro, os contemporâneos com linhas orgânicas e formas geométricas. Apesar das diferenças, esses dois estilos compartilham características, como as tramas bem amarradas, o conforto e a habilidade de agregar estilo e aconchego a todo tipo de ambiente.

O projeto assinado por Valliati & Tomasi Patrão representa um modo atual de produção com um tapete de padronagem moderna que ganhou vida a partir do desenho autoral do escritório. Em acrílico, o elemento está inserido em uma atmosfera casual e monocromática, fazendo um contraponto com suas cores verde garrafa e rubi.

Já o hall de entrada do apartamento concebido pelo UP ARQ alcança o requinte como um ponto de cor, contrastando com a contemporaneidade das linhas arquitetônicas juntamente com seus desenhos de origem iraniana. Para as arquitetas Graciela Dall Agnol e Janine Dal Prá, a escolha da raça iraniana foi certeira, tratando de um estilo de desenho suave, discreto e mais tradicional, e fugindo dos arabescos de peso clássico.

Quem adquire ou é presenteado com um tapete tradicional tem nas mãos uma peça valiosa, especialmente se for uma obra antiga, com marcas do tempo que agregam ainda mais preciosidade aos itens. O modelo Vintage Monocromático, de origem belga, simula com a estonagem a estética antiga, reproduzindo o poder dos modelos clássicos a partir de uma releitura contemporânea.

Com uma atmosfera mais moderna e feito fio a fio em látex, o tapete Jardim de Inverno retrata a paisagem complementar do sol e da luz, o verde orgânico da vegetação e a terra bem nutrida, tons que unidos se tornam elementos vivos. A peça chama atenção também pela irregularidade nas formas, criando uma composição assimétrica que esbanja autenticidade. https://www.scrivolibero.it/scegli-i-bonus-e-le-cripto-valute-piu-sicure-scegli-sempre-i-casino-online-che-utilizzano-bitcoin/

