Para não dizer que não falei das cores: como diferentes tonalidades afetam o humor

Beijos em vermelho, abraços em azul: a influência das cores nas emoções.

A arquiteta Franciele Sartor Arcari explora o lado estimulante do laranja na sua forma pura e também sutil, em composições com madeira. Foto: Kacio Lira

Os efeitos que as cores produzem nos sentidos humanos e, por consequência, no comportamento, são estudados por profissionais de diversas áreas a partir de diferentes abordagens. Apesar dos métodos serem diferentes, o objetivo é o mesmo: compreender como usar as cores e suas combinações a nosso favor.

Intrínseca no dia a dia de arquitetos, designers e decoradores, a análise de cores é ferramenta-chave na concepção de ambientes agradáveis, inspiradores e que cumpram corretamente seus objetivos. Um quarto, por exemplo, local que demanda tranquilidade e introspecção, não compartilha as mesmas necessidades de um espaço social, onde expansão é um fator determinante.

Foto: Kacio Lira

Na psicologia, o estudo das cores visa entender a relação entre tonalidades e sentimentos, revelando ambiguidades que podem passar despercebidas para quem não exercita a sensibilidade em relação ao tema, mas nem por isso deixa de ser afetado por ele. Especialista no assunto, a psicóloga, professora, socióloga e autora do livro “A Psicologia das Cores”, Eva Heller, se dedica aos estudos relacionados a esse campo.

A obra da pesquisadora alemã é ferramenta indispensável para arquitetos, designers, decoradores, artistas, publicitários e todos os profissionais que possam usufruir da potência das cores em suas criações, pois aborda aspectos históricos, culturais, sociais e emocionais de cada uma delas.

“Acreditamos muito no impacto que a psicologia das cores tem sobre um ambiente, então, além de pensar em uma composição que agrade aos nossos olhos, também conciliamos as cores nas emoções, sensações e comportamentos que elas despertam”, contam as arquitetas Natália Garofalo e Rafaela da Rocha, do Mútuo Studio. Foto: Kacio Lira

A simbologia em torno da cor vermelha é tão instigante quanto os seus efeitos, que podem ser profundos. Marcada por dualidades, a cor vai a extremos e atua de diferentes formas no psicológico das pessoas. Como cor do sangue, por exemplo, pode ser associada à vida e à guerra; quando ligada ao elemento fogo, traz a tona o amor e o ódio, sentimentos opostos, mas que incendeiam e podem queimar, dependendo da intensidade. Em uma interpretação mais mística, é um símbolo de saúde, força, atração e poder.

“É com as cores que conseguimos atingir representatividade em nossos projetos, perspectivas diferenciadas, versatilidade e singularidade de estilos”, sugerem Ana Cristina Chiesa e Suéli Herrmann. Foto: Kacio Lira

No âmbito político, é associada à liberdade, aos trabalhadores e ao comunismo; na publicidade, é favorita de marcas de comida e bebida por despertar o apetite. Seja qual for o contexto, não passa despercebida, atraindo olhares e despertando paixões por onde estiver. Se em alguns contextos o aumento da pressão cardíaca é sinônimo de emoção, em outros pode ser prejudicial.

Paixão, energia e excitação instigam o projeto concebido pelo escritório Blanc Arquitetura. Presente em todos os elementos, da estrutura aos objetos de decoração, o vermelho toma os espaços e mostra a sua força. Foto: Lio Simas

A ambivalência faz com que haja um olhar especial na hora de usar certos tons na decoração, principalmente em relação à quantidade. “O vermelho dificilmente fica em segundo plano, pois traz luminosidade e energia. Por isso, deve haver cuidado com o seu uso”, afirmam as arquitetas Ana Cristina Chiesa e Suéli Herrmann. “É uma cor que costuma potencializar e brilhar perante as demais e evidenciar a vitalidade dos espaços. De forma correta, proporciona uma experiência de afetividade e emoção com o espaço”.

Foto: Kacio Lira

Não há cor mais quente que o vermelho. Por isso, se o desejo for criar ambientes estimulantes, é ele a aposta certa. Por conta dessa essência de movimento e transmutação, as arquitetas Liliane Linhares e Ana Paula Zonta buscam equilibrar os tons avermelhados nas paletas de cores dos seus respectivos projetos, combinando o vermelho com tons mais neutros e frios.

Executado pela arquiteta Vanessa Larré, o ambiente da Boutique Pão de Ló é chamado de canto Pitaya. Com sua cor vibrante e o provocativo “Don’t touch my cookie”, é um dos cenários queridinhos do projeto. O sofá de canto segue a paleta e possui curvas para receber com mais conforto. Foto: Fábio Jr. Severo

Já a arquiteta Laiane Faita acredita que através das cores temos diversas sensações que podem agir em pontos específicos do nosso corpo, tanto na cura quanto na criatividade. “A minha relação com a cor vermelha, por exemplo, é a intensidade em viver a vida. Estímulo naquilo que faz e muita energia para as vivências de obras e reuniões. Costumo utilizá-la em meus projetos em forma de objetos, quadros, poltronas, elementos mais pontuais, sempre pensando no equilíbrio do ambiente”, explica.

Foto: Kacio Lira

“O azul das virtudes intelectuais como o oposto do vermelho das paixões”, discorre Eva Heller sobre o azul, que representa a consciência e a razão em detrimento às outras cores primárias, mais expansivas e calorosas. Como um melhor amigo que está sempre disposto a ajudar, é a única cor na qual não predomina nenhum sentimento negativo, mas o contrário: faz referência a traços como confiança, honestidade, empatia e solidez.

“O arquiteto, além de ser responsável pela estética, contribui com o bem-estar das pessoas dentro do ambiente que ele projetou. Criar uma atmosfera agradável e própria para o uso que aquele ambiente foi destinado é seu papel. Em função disso, não só a ergonomia, os fluxos e a iluminação são importantes, mas as cores utilizadas também”, pontua a arquiteta Paula Aléssio. Foto: Kacio Lira

Para o arquiteto Franchiesco Gonzatti, a cromoterapia mostra-se como uma ferramenta valiosa nas emoções e, consequentemente, no bem-estar. A visão da arquitetura e seus processos criativos a partir disso representa união perfeita para tornar cada projeto único. “A cor azul me proporcionou uma sensação de leveza e, ao mesmo tempo, me senti elegante”, conta. O profissional acredita que as peças do ambiente e os detalhes na mesma cartela de cores transmitem emoção, deixando em harmonia a sua relação com a cor proposta. “Utilizar cores específicas em meus projetos é muito subjetivo de cliente para cliente, levando em consideração o gosto pessoal e o conceito do espaço elas são utilizadas”, revela.

O sofá Premura, da Natuzzi Editions, explora a nobreza do azul, representando a personalidade da cor que é unanimidade na decoração. Foto: Kacio Lira

Aliando inovação, qualidade, originalidade e cor, o projeto da Iong House, do escritório TN Arquitetura, se destaca logo na entrada com uma “caixa azul” que dá boas-vindas aos visitantes, deixando o destaque para o living. No ambiente de estudos, a cor predomina e garante uma atmosfera ideal para concentração, auxiliando, inclusive, a lidar com situações adversas no dia a dia, pois acalma e diminui o nível da pressão arterial.

Foto: Eduardo Macários

Tão tradicional quanto os jeans aos quais dá vida, o azul representa simpatia, harmonia e fidelidade, apesar de sua frieza. Unanimidade no círculo cromático, o azul é a cor da qual as pessoas mais gostam: 45% dos entrevistados por Eva Heller gostam das matizes originadas da cor primária, uma longa distância até o verde, segundo colocado, que soma míseros 15%. Por aparecer em abundância na natureza — em nada menos que o céu e o mar —, está presente no inconsciente afetivo das pessoas, acreditam os arquitetos Chara Yene Kokowise e Lucas Vitorino. Por isso, o favoritismo.

“Pensamos que a cromoterapia é uma das chaves para construir um ambiente funcional capaz de cultivar harmonia em projetos e, também, pessoas”, avaliam as arquitetas Valéria Lorenzetti Moschetta e Juliana Rosa Moschetta. Foto: Kacio Lira

Autor do escritório dedicado a jornalistas, o duo do escritório Vitorino Kokowise Arquitetos Associados apostou nele para o espaço que conta histórias por meio de objetos decorativos. “O azul, além de transmitir tranquilidade, é uma cor sóbria com uma aceitação muito grande do público. No projeto, utilizamos um azul em tom mais escuro, o que traz um toque de requinte para o ambiente. Aplicamos nas paredes e pontos estratégicos de mobiliário e peças de decoração”, descreve Chara.

Chara Yene Kokowise e Lucas Vitorino apostaram na cor primária no ambiente pensado para o cotidiana de jornalistas. Características essenciais da cor reforçam os princípios da profissão, como confiança e compromisso. Foto: Lio Simas

Exótica e penetrante, a cor laranja é subestimada no círculo cromático, de acordo com Eva Heller. Cor do calor, da alegria, do outono e do pôr-do-sol, está ligada à juventude, ao entusiasmo, à vitalidade e à criatividade. Se o desejo é inovar — seja no trabalho ou na vida pessoal —, o laranja é a aposta certa. Isso porque os tons alaranjados são símbolos de coragem, gentileza e otimismo. Nesse sentido, costumam ser associados ao equilíbrio de emoções.

Foto: Kacio Lira

As arquitetas Joana Cerutti Machado e Morgana Antonini, do i+2 Arquitetura, visualizam o laranja como parte de uma paleta que remete à natureza. “São tons que aquecem e trazem energia. Vibrantes sem serem agressivas”, revelam. No portfólio do duo, o laranja é utilizado em detalhes pontuais, como objetos decorativos, e em um projeto para um consultório de psicologia infantil. “Elegemos a cor para provocar que as crianças se soltassem, se sentissem estimuladas a serem quem realmente são, sensação diferente se usássemos uma parede na cor vermelha ou azul, por exemplo”.

Foto: Kacio Lira

Assim como a dupla de arquitetas de Chapecó, os profissionais do escritório Zulkowski Arquitetura têm uma relação próxima com o laranja. “Com ela trabalhamos muito a inspiração e a inovação. É justamente isso que buscamos no nosso dia a dia, juntamente com o sentimento de entusiasmo que trazemos para novos projetos”, contam. Como é uma cor que desperta a criatividade, alegria e vitalidade, os arquitetos exploram os tons alaranjados em ambientes como cozinhas, áreas gourmet e espaços comerciais, como restaurantes.

A tonalidade pitanga invade a marcenaria do projeto assinado pelas arquitetas Aneliza Bozzola e Amanda Goetten. O design clássico dos armários contrasta com a ousadia da tonalidade eleita para a proposta, uma mistura que une o melhor de dois mundos. Foto: Rudi Razador

A lista de prioridades da estilista Coco Chanel era liderada pelo vestido preto perfeito. Básica. elegante e atemporal, a peça está sempre em alta — pelo menos, desde o início do século passado, quando viveu o ícone da moda. A clássica frase não tinha a ver com o formato, mas com a cor do item. Essa é a característica mais marcante do preto: estar sempre no topo. Sinônimo de imponência, poder e sedução, a cor é, assim como o vermelho, marcada por dualidades. Da mesma forma em que carrega em si a elegância máxima, tanto na decoração quanto na moda, representa também a ilegalidade e a anarquia, de acordo com Eva Heller, e pode ser associada à finitude.

O preto reina nos projetos executados pela arquiteta Amanda Mariani, que credita à versatilidade da cor o seu sucesso. Foto: Kacio Lira

Ousadia, requinte e atitude. Nos projetos que têm o preto como protagonista, essas três características estão sempre presentes. Afinal, é necessário ter audácia e bom gosto para explorar uma cor tão poderosa quanto essa, como faz a arquiteta Amanda Mariani. “O preto faz parte do DNA dos nossos projetos. Adoramos utilizá-lo em detalhes impactantes, como puxadores, elementos em serralheria, luminárias, decoração e metais”, conta. A arquiteta acredita que, diferente do senso comum, sua utilização não deixa o ambiente necessariamente carregado. “Quando bem utilizado, o preto confere muita personalidade aos espaços”.

Para a arquiteta Deise Farias Capponi, autora da proposta, “o resultado é a prova de que a cor nem sempre dita o conceito e que o conjunto é quem de fato conta a história”. Foto: Fábio Jr. Severo
Sempre presente nos projetos da Capponi Arquitetura pela maturidade, sobriedade e força que transmite, o preto colaborou para a materialização de um projeto marcante e romântico ao mesmo tempo. Foto: Fábio Jr. Severo

Para isso, a profissional leva em consideração os aspectos psicológicos, culturais e fisiológicos de cada paleta cromática, compreendendo o seu uso e usuário. “Entendemos que as cores influenciam diretamente sobre a nossa percepção e comportamento, dessa forma elas ocasionam estímulos que interferem na dinâmica do nosso funcionamento mental, sendo capazes de contribuir para o conforto e bem-estar e podendo ser energizantes ou relaxantes”.

Foto: Kacio Lira
No projeto realizado pelo arquiteto Athos Peruzzolo para uma residência em Alta Floresta, o preto é a estrela do quarto feito para um casal reservado e caseiro. Foto: Fábio Jr. Severo

Misticismo, espiritualidade e feminismo, apesar de distintos, têm uma ligação direta com o violeta, que é usado em diferentes simbologias em cada um desses movimentos. Cor secundária com uma força intrínseca que só ela tem, o violeta colore narrativas marcadas pela audácia de um tom que não passa despercebido. Assim como o preto, é associado a energias e à ideia de transformação. Ambivalente e oscilante no sentimento, é menos delicado que o rosa e mais suave que o preto, o que o deixa em uma zona mista, que de neutra não tem nada.

“Amo roxo. Uma cor forte, nobre e totalmente ligada com a espiritualidade e a criatividade”, conta a designer Priscila Lima. Foto: Kacio Lira

De acordo com a designer Priscila Lima, a cor pode ser aliada no processo criativo. “Para nós, que trabalhamos com a criatividade, estar em equilíbrio e em sintonia com nós mesmos, que são uns dos benefícios da cromoterapia, é importantíssimo. Por sinal, o roxo é umas das cores que mais estimula a sinapse e o livre criar, sem fronteiras e preconceitos”, acredita.

Longe da monotonia, projetos que têm como protagonista a cor violeta e suas variantes — do roxo ao lilás, que voltou com tudo na estética da geração Z — são sempre vibrantes. Por ser carregada de misticismo e emprestar sua singularidade a diversas pautas, como o movimento feminista, é associado a um perfil jovem e descolado, que passa longe de reproduções.

Foto: Eduardo Macários

Para a cor, originalidade é palavra-chave e qualquer projeto que ofereça menos do que isso vai de encontro à sua essência — o que não é o caso da proposta assinada pelo escritório TN Arquitetura, que explorou a tonalidade e outras cores contrastantes, como verde água e laranja, com a audácia que o violeta merece.

O banheiro sem gênero projetado pelo arquiteto Jeferson Branco celebra o que a vida tem de mais belo: sua diversidade. A proposta busca garantir aos frequentadores o simples direito de ir e vir, sem qualquer tipo de barreira ou discriminação. Por meio de elementos naturais e texturas brutas, o espaço faz analogia a um habitat onde a pluralidade do cotidiano se manifesta livremente — uma atmosfera que tem tudo a ver com a essência da cor violeta, que surge da mistura entre azul e rosa no neon.

Foto: Lio Simas

Eleita uma das cores do ano pelo Pantone Color Institute, o amarelo é um sopro de esperança. A cor primária transmite luz, energia e calor. É símbolo de criatividade e juventude, além de irradiar alegria. Torna os ambientes leves e descontraídos e, culturalmente, é associada à abundância financeira.

Como ocorre com outras cores, equilíbrio é a palavra-chave no uso, já que, em demasia, o amarelo
pode causar estresse. É essa a relação da arquiteta Ana Maria Marangoni com a cor: para além do que diz a psicologia das cores, o mais importante é a relação de quem habita os espaços, sejam eles residenciais ou comerciais, com as cores eleitas.

A arquiteta Ana Maria Marangoni costuma usar o amarelo em projeto que tenham como base o cinza e o preto. “São cores que combinam e conseguem manter o ambiente neutro, dando destaque ao amarelo, que é super vibrante e que fica lindo na decoração”. Foto: Kacio Lira

Ambientes descontraídos, como espaços gourmet e bares, ornam com cores expressivas, a exemplo do amarelo, que protagoniza a paleta do novo wine bar do Grupo Vino: um projeto moderno e aconchegante para a chegada do seu primeiro estabelecimento ao mercado de Florianópolis. Os tons aparecem em diferentes elementos, inclusive na iluminação.

Foto: Lio Simas

A intenção foi trazer os elementos de identidade da marca com novos materiais e criando, assim, um conceito contemporâneo. “Buscamos acabamentos que proporcionam conforto, sem perder a sofisticação de um ambiente wine bar. Apostamos no couro em tom ocre, combinado com a madeira jequitibá natural das banquetas – para criar uma base monocromática –, a iluminação indireta e os filetes em ouro velho trazem os detalhes refinados”, explicam os arquitetos Fábio Bubniak e Ana Carolina Melo, autores da proposta.

Foto: Lio Simas

A bancada em pedra natural, que acompanha todo o perímetro do quiosque, cria a sensação de unidade ao mesmo tempo em que contrasta com o concreto da parte interna do bar.

A estética retrô do projeto comercial concebido pelo escritório Moca Arquitetura, comandado pelas arquitetas Katia Azevedo e Ana Sikorski, é um convite à permanência. O que chama atenção no salão de atendimento da padaria é a variada paleta de cores, composta por tons amarelo-queimado, magenta, bege-queimado e verde Menta. “O processo de escolha das cores foi bastante inspirado em tons que trouxessem a sensação de um espaço quente e confortável, como ficam as casas enquanto o pão está no forno”, conta o duo. . Foto: Eduardo Macarios

A relação íntima Vaneza Krombauer com o amarelo chegou à identidade visual do escritório que comanda. Para ela, a cor de destaca por ser alegre, otimista e estimulante. “Se tratando dos projetos, por ser uma cor quente e vibrante, buscamos utilizá-la de forma mais pontual em pequenos detalhes. Procuramos explorar a tonalidade principalmente através dos metais dourados que tornam os espaços mais sofisticados e elegantes, permitindo maior flexibilidade de uso”, explica.

Foto: Kacio Lira

Intimamente relacionado com a natureza, a energia, a vitalidade e a esperança, o verde é uma cor alegre, sobretudo em tons claros. Símbolo de fertilidade, representa a primavera, que marca reinícios e inspira o frescor da flora. Na decoração, cria uma ponta com o lado externo, que é ativado inconscientemente por meio de elementos esverdeados no interior.

Da cor dos seus olhos aos projetos que cria, o verde está sempre presente na vida da arquiteta Maria Cristina Perucch. Foto: Kacio Lira

Essa conexão que causa relaxamento vai além da questão estética: além de proporcionar um cenário que transporta para cenários naturais, o verde reduz a pressão arterial e a frequência cardíaca, ou seja, faz o corpo reagir às suas nuances.

No projeto assinado pelo escritório Mauricio Christen Interiores, a escolha deste tom de verde mais escuro arremata a proposta que explora elementos de diferentes estilo com harmonia. Foto: Fábio Jr. Severo

A arquiteta Maria Cristina Perucchi tem uma relação íntima com a cor. “Verde é a natureza que nos rodeia. É a principal cor da nossa bandeira. É tropical e militar. É sorte, e esperança. Faz parte da minha identidade de forma marcante. É a cor que carrego comigo, nos olhos, desde que nasci. E isso me faz ter uma relação de muita familiaridade com ele”, pontua a arquiteta.

Foto: Fábio Jr. Severo

Projetar não é apenas pensar nos elementos construtivos do ambiente. Uma vez que as cores influenciam diretamente na experiência do usuário no espaço, a definição da paleta deve dialogar com os objetivos traçados no início do processo de criação. Nas palavras da arquiteta Maria Cristina Perucchi, é necessário analisar a simbologia, misticismo ou psicologia que a cor transmite e, dependendo do resultado, avaliar também referências culturais, históricas ou artísticas — tudo para chegar em um resultado que traga boas sensações e percepções das pessoas. Nesse sentido, o verde atua como uma cor que promove uma conexão com a natureza, uma vez que o inconsciente cria essas associações.

Foto: Fábio Jr. Severo

Nos ambientes projetados pela arquiteta Thainá Horn Di Domenico, a cor é indispensável, seja em tons escuros ou claros. “Apostamos em tecidos e estofados em verde, trazendo um forte aspecto de elegância e equilíbrio, e também na vegetação para proporcionar sensação de frescor”, afirma Thainá. “A cromoterapia pode ser um grande guia para o processo criativo, se tivermos como inspiração as reais intenções do cliente para aquele espaço”.

Foto: Kacio Lira

Tons fortes podem ser particularmente desafiadores em projetos de interiores. Quando bem aplicados, mostram a maturidade dos autores, que provam como sabem personalizar espaços com maestria. O projeto concebido pelo escritório Mauricio Christen Interiores exemplifica essa ideia no uso do verde, uma cor que traz tranquilidade e aconchego para o ambiente.

Contrastes marcantes destacam os elementos da proposta que tem o verde como protagonista. Foto: Fábio Jr. Severo

“Antes do homem sair a desbravar, as atuais cidades eram totalmente revestidas de verde, florestas e matas fechadas”, narra a arquiteta Gieza Schneider de Sousa Bernardi. “Com o passar dos anos e os avanços da construção civil, regredimos nos afastando daquilo que nos fazia tão bem, a natureza”.

Foto: Kacio Lira

O pensamento de Gieza evidencia a necessidade de reconexão e o papel do verde nesse história. A profissional defende que hoje há cada vez mais a presença de verde no meio urbano, mas essa valorização não se dá apenas em espaços abertos: os tons tomam conta dos espaços internos, sejam residenciais, comerciais, corporativos ou educacionais.

De acordo com a arquiteta, poucos clientes querem uma pintura na parede ou um móvel verde, porém a cor deveria fazer parte da paleta sempre que possível. “O verde é a cor da esperança, da saúde, da prosperidade e é comprovado pela ciência que auxilia na recuperação de pessoas doentes, trazendo a calma e gerando vida”.

Foto: Fábio Jr. Severo

Doce, criativo e charmoso, o rosa é associado à feminilidade, principalmente em tons claros, mas nem sempre foi assim. De acordo com a pesquisadora Eva Heller, a cor era considerada masculina há alguns séculos. Para além das limitações de gênero, a cor faz um convite ao autocuidado e ao desenvolvimento de habilidades relacionadas à criação artística, da música à poesia, pois desperta o lado afetivo.

Em suas criações à frente do Maraú Design Studio, a designer de interiores
Linda Cris Araújo explora diferentes tons de rosa em composições singulares. Foto: Kacio Lira

Uma cor leve, delicada, inspiradora e cheia de emoção. A maior ligação com a cor rosa é a alegria, a vontade de se reinventar e a magia que existe em apreciar a vida. Por isso, está presente em composições lúdicas e românticas, que inspiram a sonhar.

Foto: Kacio Lira

A arquiteta Natiele Antoniolli Baseggio aposta nos tons rosados em dormitórios infantis, onde é possível trazer toda delicadeza, encanto e fantasia para dentro dos ambientes. “Também já projetamos nas paletas de tom rosa: cafeterias, loja femininas, suítes, consultórios médicos, ambientes que remetem a todo lado à doçura e que transmitem carinho e compreensão”, afirma. “Nosso dia a dia é colorido e nós já convivemos com a cromoterapia, mesmo que de forma inconsciente”, acredita a arquiteta.

Foto: Lio Simas

Feito para cativar, o ambiente La Vie En Fleur, das designers de interiores Linda Martins e Linda Cris Araújo, do Maraú Design Studio, aguçou de forma multissensorial quem passou por ele. O duo projetou um espaço comercial para perfumes, no qual diferentes tons de rosa entraram em cena para despertar a delicadeza da proposta.

Totalmente instagramável, o ambiente apostou no rose quartz para diferentes elementos. Uma tela tensionada com estampa de flores e mais de 100 lâmpadas criava um efeito único, que enaltecia o rosa suave e as peças de design da composição. como a cadeira Lady Chair, assinada pela própria Linda Martins.

Foto: Lio Simas

A cor branca invoca a esperança, a tranquilidade, purifica e irradia luz nos cantos escuros. Símbolo universal da paz e soma de todas as cores, é a base para as mais diversas criações. Na sua forma passiva, mantém a neutralidade e cria uma tela pronta para receber quaisquer outras cores; como ativa, demonstra como está longe da monotonia.

“Por isso que me identifico com essa cor”, conta a arquiteta Paola Janke de Lima. “Quando sinto que um cliente está rígido ou congelado, ou tem a mente presa em alguma área, geralmente uso o branco, para que ele absorva um pouco de cada cor, pois o branco atua homeopaticamente abrindo a pessoa a todo o espectro de cores”, revela.

Foto: Kacio Lira

No entanto, por estar tão atrelada à pureza e à limpeza, pode causar esgotamento. Mais uma vez, o equilíbrio se faz necessário para extrair o melhor da cor.

O projeto de Carol Schmalz aposta no total white para evidenciar a paixão da moradora pela arte, da literatura à música. Foto: Ronald T. Pimentel

“A cor é um importante elemento na concepção espacial do projeto de ambientação, pois visualmente pode alterar as dimensões e formas do espaço, evidenciar um determinado volume ou detalhe construtivo ou mimetizar visualmente alguns aspectos do espaço”, explica Roberta Sartori, que utiliza branco e cinza frequentemente em seus projetos para, além de realçar todas as cores, pontualmente, fazer com que os ambientes ganhem luminosidade e vida. “É simples e elegante”, conta.

O minimalismo é aliado ao branco no projeto assinado por Capponi Arquitetura. A pureza das cores orna com a linearidade dos traços. Foto: Fábio Jr.

Para a profissional, a correta utilização das cores é um importante aliado para o equilíbrio dos ambientes e daqueles que os habitam, a depender do objetivo, da sensação que deseja dar ao ambiente e da mensagem que quer passar. “Quando bem escolhidas e principalmente combinadas entre outras cores, geram um conforto visual e bem-estar em estar naquele ambiente, ou quando a ideia for imprimir personalidade, a utilização da cor é marcante”.

“As cores possuem diversas funções, têm forte influência social e cultural, alteram visualmente as proporções de um ambiente, aquecem ou esfriam, valorizam e criam centros de interesse e, principalmente, podem induzir nosso ‘estado de espírito’”, acredita a arquiteta Roberta Sartori. Foto: Kacio Lira

O branco está presente em grande parte dos projetos assinados pela arquiteta Andreza Soethe. Seja na decoração, no mobiliário, nos acabamentos ou nos revestimentos, é com certeza a cor mais democrática e universal. “Gosto de utilizá-lo na composição com outros tons suaves, trazendo luz e tranquilidade ao ambiente. Mas, especialmente, gosto de explorá-lo como ponto de contraste com outros materiais e elementos, criando uma cena dinâmica e interessante com pontos focais brancos”, sugere.

Foto: Kacio Lira
O escritório OSA Arquitetos criou uma tela em branco na sala de jantar ao permitir que a cor mais pura de todas as paletas invadisse a proposta de interiores. Foto: Fábio Jr. Severo

Lunar, preciosa e moderna, a cor cinza teve seu retorno à decoração na última década, graças à ascensão da estética industrial, que tem origem nos lofts nova-iorquinhos dos anos 50. Não há dúvidas de que o concreto aparente confere um estilo arrojado a propostas arquitetônicas e de interiores, valorizando a essência dos materiais em seu estado mais puro. Mas quando o assunto são as sensações proporcionadas pelo cinza no humor e no comportamento, a resposta não é tão positiva assim: ao invés de inspirar, as nuances acinzentadas podem causar distanciamento e frieza nas relações e queda no humor. Apesar de não ser uma regra – afinal, cada um sente de uma forma -, é interessante combinar o cinza com outras cores do círculo cromático em busca de equilíbrio emocional e estético.

Foto: Kacio Lira

O cinza é uma cor muito neutra que se encontra entre o preto e branco, ou seja, pode ser combinada com uma infinidade de outras tonalidades a fim de garantir a sensação desejada. “Para nós as cores têm tudo haver com a personalidade de cada projeto. Cada cliente é único e por isso tem seus gostos e preferências”, afirmam Ana Carina Zimmermann e Rafael Fernando, da Casa de Projetos. Nos projetos assinados pelo escritório, os efeitos visuais das cores são estrategicamente trabalhados com a finalidade de desenvolver ambientes que sejam ao mesmo tempo criativos e agradáveis para aqueles que irão frequentá-lo.

O duo aposta na terapia de cores para definir a paleta de suas criações. “A cromoterapia, por ser uma técnica reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), não pode ser desconsiderada por profissionais que criam os ambientes em que todos habitamos, sabendo que cada tonalidade é capaz de influenciar nosso humor de maneira singular, além de interferir em nossa saúde física, mental e espiritual”.

A escolha de cores está intimamente ligada ao uso do espaço e perfil do cliente. Nesse sentido, a arquiteta Mariana Tormen Haiduk compreende que cada cor gera sensações e deve ser levada em consideração juntamente com outros itens projetuais que transmitem o conceito desejado. “Utilizo muito o cinza nos meus projetos, ele é uma cor neutra que se relaciona muito bem com outras cores e diversas texturas”, conta a arquiteta. “Acredito que o processo criativo é individual e tem diversas formas para acontecer. Acredito na influência das cores no resultado do projeto”. Foto: Kacio Lira

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