Galeria com Adriana Duque
Infância, história e outras mil referências estão nas fotografias da artista visual latino-americana Adriana Duque.

Alguns dizem que o segredo da vida é nunca deixar de ser criança — ou não deixar a criança que existe em cada adulto morrer, para que se possa caminhar de maneira mais leve, descontraída e inocente. Dentro desse universo, a artista latino-americana Adriana Duque possui uma fórmula para eternizar a infância em um diálogo entre fotografia e pintura. Nascida em 1968 na cidade de Manizales, estudou Artes Plásticas na Universidade de Caldas e, após receber uma bolsa de estudos, se especializou em fotografia digital em Barcelona.

Sempre imersa nos estudos e na tecnologia, Duque desenvolve séries que misturam mistério, intensidade e conceito com as virtudes que só as crianças têm. Assim, explora as possibilidades para resgatar a infância e torná-la inacabada: através de seus cenários, ela transporta o observador a diferentes épocas do mundo, a livros infantis e até a outros espaços geográficos.

Acumulando mais de 50 exposições e 12 séries, sua técnica se diferencia das demais: as mais avançadas tecnologias fotográficas se mesclam a um minucioso trabalho de criação do imaginário por meio de figurinos, acessórios e complementos que aproximam o observador da realidade construída — como na série Renascimento (2019), na qual o movimento histórico é remontado por meio dos ornamentos e da centralidade de um indivíduo em cada criação.

A grandeza teatral é uma das cartas na manga que a artista possui, convocada intencionalmente em releituras de pinturas que marcaram a história do ocidente no século XVI e XVII na Era do Ouro, no Barroco e no Rococó. Nas fotografias, majoritariamente as modelos expressam traços sérios e um olhar penetrante — uma referência às pinturas medievais, onde não era aceitável que as modelos mostrassem os dentes.

Um dos elementos que marcam a sua trajetória no mercado artístico são os fones-coroas, criados artesanalmente pela fotógrafa em 2011 para uma de suas séries, “Íconos”. Uma espécie de hibridismo entre tecnologia e história, os acessórios são frutos de um intenso estudo das coroas do século XVI e, ao longo de suas adaptações, já comportaram diversos elementos como figuras de animais, flores e frutas. Tamanha reverberação dos itens o fizeram sair das telas da artista em uma disputa judicial com a marca Dolce & Gabbana, que teria copiado os seus desenhos para uma coleção de inverno, em 2016, sem dar os devidos créditos.

Presenteando o mundo — e o design de interiores — com obras que unem a infância com questões históricas, sociais e ambientais, seus quadros preenchem tanto projetos residenciais quanto galerias de Paris, Bogotá e Madri. Porém, possui uma relação com o Brasil que é de se orgulhar: o chamando de sua segunda casa, tem visto de permanência no país que tanto a admira.